terça-feira, 11 de novembro de 2008

Extorsão de $á

Diálogo entre O Grande, Poderoso e Inquestionável Financeiro-Pai e seu assistente (por razões de diagramação somente, o nome da entidade suprema será abreviado):

O Financeiro: Caro Assistente, passei minhas férias tentando encontrar alguma forma de, perdoe-me a forma direta, extorquir até o último centavo dos nossos clientes, digo, acadêmicos tão estimados, e acredito ter conseguido uma solução favorável. Preciso que você acompanhe o processo neste semestre para testarmos a eficiência da idéia.

Assistente: Certamente, oh Grande Mestre, diga-me do que se trata.

O Financeiro: Descobri uma certa taxa misteriosa, chamada Taxa de Serviço. O valor é pequeno, claro, apenas R$ 2,35. Mas declaro que a partir de agosto todos os alunos devem pagar tal valor a mais na mensalidade. Pode parecer pouco individualmente, mas acredite, nós arrecadaremos muito com isso – e o melhor, sem precisar converter em salário para os nossos empregados. Afinal, este é o valor que até agora tem sido nossa obrigação pagar por cada boleto. Repassemos o custo para os alunos, simples.

Assistente: Mas, senhor, isso não é ilegal? Acredito ter lido algo a respeito no abominável Código de Defesa do Consumidor, talvez no artigo 51, parágrafo XII.

O Financeiro: Ora, não seja ingênuo. Quantos dos nossos acadêmicos suspeitam que isso seja ilegal? Tudo o que precisamos fazer é não contar isso a eles. É uma instituição particular, não é mesmo? Diga o preço, eles pagam.

Assistente: E se alguém reclamar?

O Financeiro: Ora, com certeza um ou outro irá, mas que expressividade estes poucos poderiam ter? Não há motivo para preocupações.
Assistente: Mas e se alguém for ao Procon e entrar com um processo?

O Financeiro: Por dois reais e trinta e cinco centavos? Faz-me rir, Assistente, faz-me rir.

Um mês depois...

Assistente: Mestre, recebemos uma notificação do Procon. Uma aluna indignada está reclamando da taxa, o que devo fazer?

O Financeiro: Bem, já esperávamos que isso viesse a acontecer. Mande uma resposta para o Procon, diga que a faculdade não tem “o controle de inclusão da referida taxa”, use termos abstratos como “instituição financeira”, e coloque o nome de 23 advogados no topo da página, isso pode intimidar. Diga que os alunos que não concordam com a taxa podem retira-la na central financeira da faculdade, qualquer coisa do tipo. Ah, e mande também uma cópia para a tal aluna. Não devíamos fazer isso, mas pode ser que ela fique mais calma.

Outro mês depois...

Assistente: Escritório do Grande, Poderoso e Inquestionável Financeiro-Pai, em que posso ajudar?

Financeiro-Filho: Assistente, preciso falar urgentemente com meu pai.

Assistente: Ele não está aqui no momento, mas eu posso comunicá-lo de qualquer coisa assim que voltar, se é tão urgente. O que aconteceu?

Financeiro-Filho: Uma de nossas clientes está aqui. Ela me mostrou uma carta e quer que eu elimine o valor da Taxa de Serviços do boleto, veio até aqui especialmente por isso. Eu sequer sabia da existência dessa carta! Não posso retirar o valor, mas também não posso me recusar a tirá-lo! A cliente já tem audiência marcada pelo Procon, nós somos obrigados a comparecer, ela requer o cancelamento da cobrança, correção monetária, juros legais, e eu, que deveria saber como proceder, sinceramente não sei! Não posso nem alegar que é imposição do MEC desta vez! Avise meu pai, a situação pode ficar complicada.

Mais tarde...

Assistente: ...foi isso que seu filho disse, Grande Mestre. Como devemos agir?

O Financeiro: Confesso que eu não esperava tudo isso, Assistente... Acredito que agora nós precisamos torcer para que os acadêmicos não se mobilizem, esperar que a maioria ainda ignore a cobrança. Com uns poucos é fácil lidar.

Isabel Humenhuk.

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